Quem serão os cavaleiros de amanhã? por onde seguirão seus passos?quem os guiará pelas ruas do anoitecer?quem vai embalar as crianças sujas e ranhosas com a lágrima constantemente a cair por uns olhos expressivos que de tanto olhar caiem no vazio da tarde, e os carros velozes cruzam as ruas sem ver que tu parado de cócoras tomas notas no teu cérebro e fotografas cada passo cada cavalgada dessa criança que todas as outras representa
E a noite, mansa e calma acerca-se do mundo, e no sossego do lusco-fusco, essa criança olha-te e sem uma única lágrima nos olhos, sorri-te e tu trôpego e sem respirar, vês-te num espelho real e perguntas no silêncio dos teus lábios porque te olha ela num sorriso brilhante que ilumina toda a noite. E os carros vão passando na sua labuta diária de chegar mais cedo a um qualquer lugar, e tu aí sentado sobre os calcanhares, com essa criança no colo, deixas rolar uma lágrima, e as asas fechem-se em redor dos dois como se fosse um casulo. Quem diria que tu apesar dos anos ainda podias ser assim tão terno
As asas fechadas sobre os dois e o mundo a correr cá fora, sob um silêncio ensurdecedor a criança adormece confiante nos braços que a sustêem, certa de que as tuas asas a protegem do mundo lá fora.
As asas negras e sujas de outrora parecem agora angélicamente brancas e polidas de toda a porcaria que durante tantos milénios se acumulou.
Quem serão os cavaleiros de amanhã? por onde seguirão seus passos?quem os guiará pelas ruas do anoitecer?quem vai embalar as crianças de amanhã?

