Chegam os dias a seguir às noites e tu deambulas pelas cidades procurando o passado de que te esqueceste, ou que na busca queres apagar da mente o que sofreste e o que riste, o vinho dos outros tolda-te a mente e percorre teu corpo como sangue da vingança dos dias em que as asas eram teus braços apenas nas mãos de uma criança perdida entre dois mundos que não sabia encontrar o destino que se reproduzia mesmo ali à sua frente. Agora asas estendidas em nenhuma direcção perguntando ao tempo quando chega a hora de dormir sobre o fardo do corpo mole que derrete no caminho, vómito de outros corpos moribundos que esvoaçam nos céus da tua indiferença, pedintes que errantes pela estrada da desventura são apenas marionetas que tu manuseias a teu belo prazer, como essa puta frágil que te segue sem razão e que tudo faz para te beijar o gélido corpo de morto envolto nessa mortalha réstia de gente, olha-te no fundo dos olhos e neles encontra o vazio do mais profundo oceano, e respirando ofegantemente segue teus passos como se a tua sombra fosse
Atravessas as ruas de mais uma cidade que calcorreias sem destino nem direcção, és pedinte de fome de vida, de sede de saber onde perdeste o sentido daquela criança que já esqueceste na encruzilhada entre as mãos e as asas que te seguram entre dois sóis ou duas luas, segue-te de perto, quase colada a ti, essa puta frágil de corpo sedento de apenas um olhar, e tu manuseias os seus sentimentos atropelas as palavras esquivas-te aos seus anseios, e apenas quando o teu exausto corpo se deita numa qualquer cama de viela suja, essa puta frágil que te segue consegue iludir-se nesse lume extinto, e beijando as chagas de teu corpo entra em ti enche teus olhos de lágrimas que nunca chorarás, e faz de ti criança numa brincadeira de adultos corpos, mas nem assim teus olhos se penetram no corpo e as asas que te tapam e fazem de mortalha rasgam as carnes frágeis e irrompem numa investidura grotesca e essa puta frágil confunde esse grito selvagem de dor com um esgar de profundo prazer, e deixa que os olhos se percam no vazio do teu olhar, louca de paixão deixa-se atravessar pelas asas escuras de tuas mãos
A noite ilude todos os sentidos, e a Lua atravessa todos os corpos
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Asas V
Postado por
White Night
às
10:53
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