A noite chega lentamente, e tu continuas aí escondido, acocorado atrás desse muro, como um cobarde és incapaz de enfrentar os teus medos, apenas a raiva que nutres pelos outros te faz parecer destemido, mas no fundo do teu ser sabes que és um cobarde, e essas asas apenas te protegem dos outros por terem um ar tão sombrio. Agachado atrás do muro choras, sem lágrimas mas choras, tens medo de a perder, de haver alguém que a tire da vida que leva, nesse pensamento sorris, és pobre de espírito e maléfico de pensamentos, quem a tiraria da vida que leva, e quem se ocuparia dela sem seres tu, este pensamento faz-te sorrir mas não descansado, nunca se sabe o que os outros são capazes de fazer, as mentes são perigosos espinhos e surpreendentes maquinas capazes de coisas nunca pensadas. Este pensamento assusta-te de tal forma que resolves avançar, de um pulo levantas teu corpo pesado abres asas como se fosses voar, soltas do peito um grito, arrepiante. Levantas os braços e de um salto atravessas o muro, paras em cima de um pobre transeunte que te olha estarrecido com o medo gelado no olhar, agora não és o cobarde de há pouco, a tua raiva prevalece e o teu olhar congela o pobre que ia para casa, não sabes se te deve insultar ou pedir perdão por existir e se ter cruzado contigo, está petrificado no chão. Uivas-lhe e o desgraçado sai a correr, um enorme riso estético sai-te da garganta e aos pulos fazes o caminho deixando os outros estarrecidos a olharem-te. O teu cheiro polui a cidade, nem os esgotos fedem como tu, dobras uma esquina e esbarras com essa mulher de um adorável perfume que te assalta as narinas, num repente sentes vontade de a possuir ali mesmo no chão da cidade podre, ela olha-te num misto de pena e pavor, não é capaz de agir, está pregada ao passeio, agarras-lhe um braço e puxas para ti esse corpo perfumado, os seus olhos olham-te sem medo nem pavor, como se se quisesse entregar a ti, os teus lábios prendem-se num beijo e ela deixa que lhe toques, está em transe. Pobre alma a tua
As asas negras que envolvem teu corpo não te preparam para as loucuras da mente, e errante atravessas as noites e as pessoas, trazes em ti o ódio do Universo. A mente prega mais uma das suas partidas, nem vês, nem ouves, nem sentes, essa mãos que te tocam esses lábios que te sugam a alma, esse perfume esses olhos, não és capaz de reconhecer a tua puta frágil só pelo facto de ela ter tomado um banho incapaz que era de ir ter contigo a cheirar a outro homem. E tu louco pelo perfume investes o corpo contra a fragilidade do ser, uma e outra vez, nem te dás conta de com quem estás, nem do local para onde te levou essa mulher que te parece uma eterna desconhecida, apenas te importa o corpo, queres despejar toda a tua fúria, pensa que te estás a vingar por a tua puta ter ido com outro homem, e tu agora que apanhaste essa desconhecida está a vingar o pensamento e a alma, sem veres que estás tão errado agora como quando cobardemente te escondias acocorado atrás do muro com as asas a protegerem teu corpo e a enganarem a tua mente.
As asas não te protegem da realidade, e quando num último esgar escorres a seiva dentro do corpo dessa mulher que desconheces, abres os olhos e louco vês quem ela é, gritas espavorido a loucura atinge-te na forma mais torpe, e a puta frágil que te embalou o corpo deixa fugir uma lágrima, não sabe se de medo de te perder se de vergonha de tu não a teres reconhecido. As mãos torcem os lençóis sujos do sexo que julgavas fazer com outra, e os olhos olham o vazio do quarto, não és capaz de a olhar de frente, de lhe dizeres o quanto arrependido estás por não teres sido capaz de a olhar quando a agarraste e lhe prendeste os lábios num beijo que ela de ti nunca tinha sentido.
As asas não te deixam pensar, e voas pela janela num salto acrobático aterras no chão da cidade e corres louco pelos passeios desejoso de agarrares uma vítima e lhe apertares o pescoço até ao suspiro final
As asas negras como um manto esvoaçam pelas ruas.
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Asas VIII
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terça-feira, 20 de novembro de 2007
Tu
Mordes, cerras os dentes em orno de ti, mordes toda a tua raiva, deixas de te exprimir, emudeces a face e calas os sentimentos de raiva e loucura, a noite vem la longe e o teu corpo atravessa o dia involuntário de ti apenas tu podes decidir o que fazer mas deixas isso para outros e as suas decisões não vão de encontro às tuas necessidades, nem são do teu agrado. Mordes todo o corpo, violentas-te na força de não perderes a razão perdida no tempo de um pensamento, erras a cada palavra que proferes, és a negritude das noites nos dias da tua própria existência
Deixa o mundo guiar-te, deixa que forças mais poderosas te digam o que fazer, cala os sentimentos sejam eles o que forem para ti, morde os lábios e cerra em ti a força de ver mais longe, o mundo que tu conhecias acabou, deixou-te morrer, e agora falas pela boca de outro, sentes os seus sentimentos e erras pelo mundo dos mortos vivos
Eras tu quem tudo mandava, não te deixes enganar, não te deixes perder por esse mundo novo, nada é real, vives onde a tua mente te deixa ir, e a tua mente não é tua, pertence a outro, o mundo não é teu, pertence a outros. Andas nú pelos corredores a que chamas estradas e ruas, não conheces a verdade e ela nunca se vai dar a conhecer, tiraram-te o cérebro que te ajudava a orientar o mundo, o mundo que era teu, não és ninguém não deves ser nada
Mordes, cerras os dentes no crânio do pensamento, sabes que não és daqui, que viveste em outro lugar, era esse o teu pensamento mas ele foi-te tirado, perdeste o direito de pensar, de agir por ti, és um ser, não um homem.
Deixas que te acariciem a pele, mas não entendes porquê, deixas que te alimentem, mas não sa bes porquê.
Mordes os lábios e ficas de olhos esbugalhados a ver o sangue que te cai da cara, mas nada te diz não sentes a dor que te rasga a alma, não ves o mundo que era teu, mas também não sabes que ele te pertencia
Deitado nessa cama, agonias, os dias são noites e as pessoas que te rodeiam, o que fazem elas aqui, quem são estas pessoas, aquele rosto é-te familiar, não sabes que o teu mundo ruiu, pensas que está perto de ti quem não te consegue ver. E quem são estas pessoas que te rodeiam, que mão é esta que te está a alimentar, que sabor é este que te estão a meter na boca porque é que tenho de engolir, e tentas deitar fora a comida que te dão á boca, mas insistem em meter-te pela boca abaixo essa colher de um liquido que tu não reconheces, e não fazes mais nenhuma tentativa de vomitar
Essa cara que te olha, calada, fixa em ti, é essa a única cara que tu reconheces, mas ela não se mexe está paralisada no tempo, e tu não entendes porque é que essa cara se sobrepõe a todas as outras pessoas que estão no quarto, nem sequer sabes onde é esse mundo. Mordes os lábios e calas todos os gritos que queres dar, sabes que não o deves fazer, mas não sabes o porquê
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domingo, 11 de novembro de 2007
Perdido no tempo vazio VII
A rua está deserta parece que ninguém vive nesta triste terra, vagueando pelas ruelas desconhecidas procura um café, precisa desesperadamente de beber um café bem forte, da cabeça não lhe saem os reais sonhos nocturnos. Parece que quanto mais quer esquecer o passado mais ele se quer enraizar na sua mente, não lhe dando descanso. Por raio é que foi invadido por aquela sucessão de imagens, nunca ali tivera estado, não lhe era minimamente conhecido sequer o nome da terra.
Um café, praticamente vazio, dois velhos a fumar sentados ao fundo e uma mulher mais uma criança que sentadas perto da porta o olharam com desconfiança, afinal ele não passava de um estranho. Pediu um café e perguntou onde poderia comprar cigarros e um jornal, a mulher atrás do balcão desapareceu por uns momentos e quando voltou trazia nas mãos dois jornais diferentes e um maço de cigarros da marca que ele fumava. Ficou boquiaberto, nem queria saber como é que a mulher sabia qual a marca de cigarros que ele fumava nem como é que ela sabia sem lhe perguntar quais eram os jornais que ele pretendia. Pegou as coisas e foi sentar-se ao fundo do café, quase ao lado dos velhos, que o cumprimentaram ao passar por eles com um aceno de cabeça, deferiu o cumprimento e teve a sensação de eles o conheciam, alias tinha a certeza que todos quantos estavam naquele café de algum modo o conheciam, mas para ele tudo era novidade tinha a certeza mais que absoluta de que nunca ali tinha estado, nem sequer tinha passado por perto daquele lugar que se estava a mostrar muito intrigante.
As notícias as mesmas de todos os dias, politica tiros e mortos na estrada. A atenção foi-lhe desviada para uma noticia que dava conta de um acidente gravíssimo acontecido na noite anterior na auto-estrada que ele percorrera, o jornal noticiava que devido a um condutor desatento, possivelmente alcoolizado, teria feito com que um outro condutor se tivesse despistado e tendo ido contra os raids da estrada teria ficado gravemente ferido, a identificação do condutor que causara o despiste era ainda desconhecida mas a brigada de transito estava na esperança de ainda durante aquele dia descobrir através das câmaras de vigilância qual o carro que poderia ter estado envolvido no acidente.
Poisou o jornal, um suor frio trespassou-lhe o corpo deixando-o gelado, apesar do imenso calor que se fazia sentir naquele dia. Fez um esforço, lembrava-se de ter repentinamente guinado o volante para se desviar de um obstáculo, tinha a vaga ideia que poderia ter cabeceado com sono, na noite anterior, o local identificado no jornal era a poucos quilómetros da saída por onde tinha chegado aquela terra.
Teria ele algo a ver com o despiste, ou apenas uma enorme coincidência
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sexta-feira, 9 de novembro de 2007
Asas VII
Acocorado atrás desse muro, pareces uma criança assustada, ridículo vindo de ti essa tua posição perante o mundo, parece que vais defecar toda a merda do Universo, as faces rígidas e vermelho-palidas pareces aquele vagabundo que outro dia te pareceu morto deitado na sarjeta e que tu nada fizeste para ter a certeza do estado do desgraçado. O que é que fazes aí, assustada criatura, perdeste a raiva e o desdém, morreu-te a coragem de mastigar os outros a teu belo prazer, ou estás de facto a cagar.
Não. Nada disso, já descobri, estás apenas a esconder-te, estás a fugir, estás mesmo com medo, tremes, e o que é isso que te está a correr pela face, não me digas que agora deste em maricas cobardolas e desata a chorar, que merdas tu me saíste, tens as asas caídas contra o chão e agachado choras como criança, estás deveras ridículo, o que é que te aconteceu para te acobardares assim e esconderes esse horrendo corpo atrás desse muro
Olhando à tua volte parece-me que falta alguma coisa ao cenário normal dos teus dias. Já sei, estás sozinho, a puta que te segue e persegue não está contigo. Não me vais dizer que é por causa dela que estás nesse pranto, nunca lhe deste importância, nem quando ela te deixava para ir atender um cliente para ganhar algum dinheiro, dinheiro que tu bebias em largos tragos de vinho manchado do seu sangue e das suas lágrimas. Não me digas que ela foi com um cliente e que isso de repente te assusta ou trás a consciência atropelada. Não acredito que estejas preocupado ou sequer enciumado. Não isso não são coisas do teu conhecimento, nem sequer são palavras que tu alguma vez tenhas proferido, sempre te estiveste nas tintas para aquilo que a tua puta sombra fazia, e o dinheiro que te dava era sempre bem vindo e tu sempre soubeste a sua proveniência. Que vontade de rir que tu me dás, tenho vontade de saltar o muro e derrubá-lo par que quem passa do outro lado te veja e tenha um momento de prazer ao ver-te assim, tu que sempre andas tão altivo a pavonear essas asas sempre sujas pelas ruas da cidade e a olhar cheio de desdém para quem passa e te foge da frente. Que ridícula e patética figura tu estás a fazer. Levanta-te, deixas-te de choradeiras, ergue as asas e vai para o ouro lado do muro procura uma tasca e enterra essas lágrimas num copo, e serve-te dele para quando te der a arrogância de olhar os outros com menosprezo pensares que tu também és fraco.
Enquanto te penalizas por nunca teres tido um gesto, por muito insignificante que fosse, ou dito uma palavra de apreço, a tua puta frágil está algures a ser trespassada por um macho desabrido, e preocupada contigo chora lágrimas de sangue a cada investida, o macho apenas quer o corpo e pouco lhe importa se ela chora ou ri e uma e outra vez atira o pesado corpo contra a frágil puta que te chora e leva o pensamento para o teu corpo, num esgar entre grunhidos morre o macho satisfeito, como se tivesse feito uma grande bravura. Saciada a fome olha desinteressado para a puta levanta o corpo e atira para cima da cama algumas notas. Notas que tu vais beber num bar rasca e enterrado no vinho vais depressa esquecer essa lágrimas que te apareceram e te levaram para esse esconderijo improvisado, mas a tua sombra não vai apagar as marcas indeléveis do corpo e muito menos da mente, a tua puta frágil não esqueceu uma única vez cada homem que lhe caiu em cima, os hálitos e os hábitos as depravações e as taras, nunca conseguira esquecer os tratos que lhe deram, como não te esquece a cada momento que se sente perfurada por homens que só vera uma vez na vida, sempre que tem a tarefa de vender o corpo, é em ti que pensa para conseguir não fugir debaixo dos corpos que lhe caiem em cima desinteressados de si própria
Tu aí enterrado nas asas e nas lágrimas, levanta-te, deixa-te de fingimentos e acorda, nunca foste assim, as asas pretas que trazes presas a ti estarão a trair o seu senhor e a deixar-te igual aos homens, ou estarás a ficar velho e assustado. Ironia do mundo, afinal não és tão forte como mostras aos outros e corróis-te por dentro na altivez com que olhas o mundo. Olhando para ti vejo uma criança assustada, e tu não és tu
Grito na noite que atravessa a cidade e afunda no peito de quem ouve uma agonia ansiosa, um susto que petrifica, a tua voz ecoa na noite, és outra vez tu, passou-te a choradeira, as asas saem da terra abres os braços como se quisesses abarcar o mundo contra o peito.
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domingo, 4 de novembro de 2007
Sabes, hoje é domingo IV
Sabes, preciso falar contigo, desabafar as minhas mágoas, como se tu não as conhecesses, tu que sempre foste a minha confidente.
Sabes, continuo a pensar naquele beijo, mas onde tinha eu a cabeça para ter saído de casa e me ter esquecido que devia sempre dar-te um beijo, raios para o despertador, não quero culpar ninguém pelos meus actos, mas se aquela porcaria tivesse tocado eu acordava mais calmo e tinha mais tempo para tudo o que preciso fazer pela manha, e este beijo que trago preso nos lábios estaria depositado em ti
Sabes, estou quase a chegar, demoro um pouco mais, as estradas estão loucas e os carros atropelam-se cada vez mais, e eu não posso correr o risco de faltar ao nosso encontro, e tu tanto me pedes sempre para não me atirar à toa por aí, agora tenho tanto cuidado que demoro mais do dobro do tempo a chegar a qualquer lado.
Sabes, outro dia pensando em ti dei por mim a chamar-te e de repente julguei que endoidecia, tu estavas mesmo ali à minha frente, mas muda e queda como uma criança que tem medo de entrar sem que lhe dêem permissão, e eu chamava e tu nada, não havia modos de entrares no meu mundo. Outro dia saíste por aquela porta e ela desde esse dia parece sempre mais triste, e eu quando passo por ela, como se de uma pessoa se tratasse, faço-lhe sempre uma pequena carícia para ela não se sentir triste de já não te ver. Sabes é só uma porta mas parece que fala comigo sempre que nos cruzamos.
Sabes, espero sempre pelo teu sorriso, e esta lágrima afogasse num rio que não se vai fazer ao mar. Não, hoje não há mares para correrem livres……
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sexta-feira, 2 de novembro de 2007
Perdido no tempo vazio VI
A noite ficou por momentos lá fora e com o bater da porta do quarto teve a sensação de estar pedido no tempo, aquela cama, aquele moveis recuaram-no no tempo, atravessou o portal, e aterrou, estatelado no chão, vinte atrás, a casa não seria a mesma, mas tudo estava tal e qual nos mesmos sítios. Um grito abafado prendeu-se-lhe na garganta, e apenas conseguia olhar à sua volta e todos os personagens desfilavam sem o ver, os diálogos eram exactos não havia falhas os movimentos as cores as roupas, tudo como tinha sido, a peça estava bem encenada, os actores sabiam de cor as suas deixas. Todo girava à sua frente, moviam-se as pessoas como se ele ali não estivesse, ele próprio fazia parte da trama
Uma buzina forte despertou-o do torpor por que estava a passar, olhou à sua volta, nada, ninguém estava com ele no quarto, estava sozinho, esfregou uma e outra vez os olhos, tudo tinha sido apenas um pesadelo
A roupa estava desalinhada, mais uma noite que dormira vestido, mas agora podia tomar um banho quente e mudar de roupa. Talvez ficasse uns dias por aquelas bandas, ate porque não sabia muito bem onde se encontrava, pela janela pecebeu que deveria estar numa vila muito pequena, não se viam muitos carros estcionados perto do seu carro, e não havia muita gente no passeio mesmo à frente da pensão.
Depois de um bom banho vou dar uma volta la fora
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sexta-feira, 26 de outubro de 2007
Asas VI
Aterras no cais, chão de lama onde as gaivotas proliferam e defecam, as tuas asas não te salvaram dessa enorme queda, a mente atraiçoou-te e mais uma vez adormeceste ao som do mar que assalta teu espírito e te afunda na perplexidade das ondas que são teus próprios pensamentos, aterraste nessa lama de dejectos, e onde os bêbados mijam tens agora as mãos e a cara, por momentos perdeste esse sorriso que constantemente te atravessa o rosto e zomba de quantos te percorrem os dias, como essa puta frágil que não te viu cair e agora ao olhar para ti não sabe o que fazer e por isso, deixa também que o seu corpo apodreça junto ao teu numa mina de mijo e merda.
São escárnio de quem passa e olha com desdém o homem de asas negras e a puta especados no chão como se fossem dois montes de esterco. Lentamente levantas a cara e olhas o mundo visto do chão, tentas em vão levar a mão a um transeunte para que te ajude, mas como tu já fizeste no passado, este desvia-se de ti e cospe na tua direcção, falhando por poucos milímetros a tua cara. A ira aumenta e transformasse em raiva e tu e sem conhecimento das tuas forças enterras as mãos na pobre puta frágil e levantas teu corpo espezinhando esse pobre corpo que se deitou a teu lado e que se deixava morrer por ti. Atiras as asas para o lado, ganhas de novo esse teu sorriso desdenhoso, tornas a ver o mundo de cima, cospes para o lado, mesmo nos olhos dessa que te segue cegamente, nem dás conta que essa pobre criatura se está a tentar levantar segurando as pontas das tuas asas, segues caminho, vais direito ao primeiro bar rasca que consegues encontrar. Atrás de ti arrastando o corpo andrajoso segue, com se fosse uma sombra, essa puta frágil que tu desconheces. Já reparaste que nunca lhe diriges a palavra, nem quando ela te acalma as noites doentias e te suga o mal das entranhas e bebe o teu fel, nunca, nem uma só vez tu foste capaz de lhe dirigir um insignificante olhar, mas sentes a sua falta quando ela por momentos se distrai e perdida fica a olhar para uma qualquer montra dessa cidade escura e fria, nessas alturas tu paras e ficas espantalho no meio do passeio sem direcção sem rumo que seguir, e só quando ela se lembra de ti e se cola a esse teu hediondo ser é que tu segues caminho, ganhas vida e desperta em ti o ódio de te sentires assim, mas nunca, mesmo nuca lhe diriges a palavra, nem para a desencantar
As asas estão a ficar podres e esse teu sorriso maléfico aterrou na lama de merda e mijo de todos os bêbados que tu nunca conheceste, mas agora que segues direito com as asas a arrastarem no chão, olhas com desdém todos os que se desviam desse fétido cheiro que transborda do teu corpo
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segunda-feira, 22 de outubro de 2007
Nada
Estas mãos que te moldam
criam em ti
raiva de te ver
todo o ódio
toda a humanidade
fúria
corrida contra o tempo
fuga
coração que bate
respiração
sangue
torpe é teu corpo
espectro
senhor das trevas sem fim
prendes
foges
atravessas a noite
teu corpo
sem ti
tua vida em mim
alcool da vida
pérfida razão
Estas mãos que te moldam
tiram a vida
apertam
sufocas
rezas
amaldiçoas estas mãos
marioneta de mim
atravesso teu corpo
trespasso a vida em ti
és
sou
morte em olhos pretos
raiva em dois sóis
luas do apocalipse
Estas mãos que te moldam
este grito que te abafa
onde és
cinza
eu morte
tu nada
negrura de coisa alguma
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quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Perdido no tempo vazio V
Noite escura com breu e a estrada não parava de rolar sobre o peso dos pneus, e o carro seguia com vida própria e o condutor afoga-se cada vez mais nos pensamentos que a mente lhe traiu e lhe trouxe de volta todas as esquecidas promessas, todas as conversa ocas e tudo o que o presente devia apagar do passado, nada o fazia parar, era como de um filme se tratasse e a maquina não parava de rolar, e a estrada seguia louca vertiginosa. Um pensamento encerrava o anterior e os seus últimos anos vagueavam ali espelhados no pára-brisas, tela iluminada com vontade de o apanhar desprevenido e trai-lo onde ele mais se agitava e mais se feria
Guinou o volante para a direita, atravessou a portagem e no primeiro espaço travou o carro, roubou-lhe a vontade e tornou-se de novo no comandante das tropas que eram os seus erráticos pensamentos. Abriu a janela deixando entrar o ar abafado da noite, quem diria que ainda à pouco tempo o céu tinha desabado na terra e que tinha chorado em cima dela como criança perdida no escuro, fazia agora um quase insuportável calor e a brisa que percorria o luar era quente e abafada, acendeu um cigarro, para logo o deitar janela fora. Saiu, esticou as pernas, olhou em redor para tentar perceber no espaço vazio em que sitio se encontrava, que terreola seria aquela que se estendia no horizonte
Seguiu pela rua olhava de um lado para o outro, o homem na entrada da vila dissera-lhe que uns metros mais adiante encontraria uma pensão. É da senhora Rosa. Dissera-lhe o velhote com um certo ar paternal e um sorriso que indicava saber o que lhe ia na alma
Um reclamo luminoso indicava “Quartos”. A pensão da senhora Rosa, pensou de si para si
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Asas V
Chegam os dias a seguir às noites e tu deambulas pelas cidades procurando o passado de que te esqueceste, ou que na busca queres apagar da mente o que sofreste e o que riste, o vinho dos outros tolda-te a mente e percorre teu corpo como sangue da vingança dos dias em que as asas eram teus braços apenas nas mãos de uma criança perdida entre dois mundos que não sabia encontrar o destino que se reproduzia mesmo ali à sua frente. Agora asas estendidas em nenhuma direcção perguntando ao tempo quando chega a hora de dormir sobre o fardo do corpo mole que derrete no caminho, vómito de outros corpos moribundos que esvoaçam nos céus da tua indiferença, pedintes que errantes pela estrada da desventura são apenas marionetas que tu manuseias a teu belo prazer, como essa puta frágil que te segue sem razão e que tudo faz para te beijar o gélido corpo de morto envolto nessa mortalha réstia de gente, olha-te no fundo dos olhos e neles encontra o vazio do mais profundo oceano, e respirando ofegantemente segue teus passos como se a tua sombra fosse
Atravessas as ruas de mais uma cidade que calcorreias sem destino nem direcção, és pedinte de fome de vida, de sede de saber onde perdeste o sentido daquela criança que já esqueceste na encruzilhada entre as mãos e as asas que te seguram entre dois sóis ou duas luas, segue-te de perto, quase colada a ti, essa puta frágil de corpo sedento de apenas um olhar, e tu manuseias os seus sentimentos atropelas as palavras esquivas-te aos seus anseios, e apenas quando o teu exausto corpo se deita numa qualquer cama de viela suja, essa puta frágil que te segue consegue iludir-se nesse lume extinto, e beijando as chagas de teu corpo entra em ti enche teus olhos de lágrimas que nunca chorarás, e faz de ti criança numa brincadeira de adultos corpos, mas nem assim teus olhos se penetram no corpo e as asas que te tapam e fazem de mortalha rasgam as carnes frágeis e irrompem numa investidura grotesca e essa puta frágil confunde esse grito selvagem de dor com um esgar de profundo prazer, e deixa que os olhos se percam no vazio do teu olhar, louca de paixão deixa-se atravessar pelas asas escuras de tuas mãos
A noite ilude todos os sentidos, e a Lua atravessa todos os corpos
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segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Sabes, hoje é domingo III
Sabes, deixa-me dizer-te que estou pronto para sair, vou àquele lugar onde te abracei faz tantos anos e tu foste de mim sem que eu o permitisse, hoje prometo a mim mesmo que as lágrimas vão ficar sentadas no banco e não vão sair feitas doidas a rolarem-me pela cara abaixo, vou portar-me como tantos outros a quem a dor também assola e passam pelos dias como eu sem sentido, mas carregam esse fardo sem soltarem os sentimentos e sem darem a conhecer aos outros o que se passa dentro dos seus seres, são coisas nossas só nossas porquê dá-las a saber aos outros que nos rodeiam e não querem saber disso
Sabes, tenho a certeza, sim hoje tenho a certeza que devia ter-te acordado, que te devia ter dado aquele beijo que mordo nos lábios, e tu agora estavas aqui a fazer-me o nó da gravata, não para ir onde vou, mas para ir-mos os dois a qualquer sitio, talvez apenas jantar onde tantos jantares fizemos
Sabes, aquele beijo dói-me nos lábios, já houve quem mo tentasse roubar, já houve quem se insinuasse naquele beijo, mas eu não dou, não consigo fugir assim de mim e deixar tudo para trás era como se te estivesse a trair, a mentir, e isso eu nunca fui capaz e muito menos agora
Sabes, troquei de carro, não porque eu quisesse tu gostavas tanto dele, dizias que te sentias segura dentro dele, mesmo quando eu voava a alta velocidade pela auto-estrada fora a caminho de algum lugar onde ia-mos passar uma ou duas noites, não queria mas teve de ser já estava a começar a ficar velhote e os anos não perdoam e o carro já ficava mais vezes na oficina do que andava comigo, mas não te preocupes, comprei a versão nova do mesmo carro que tu tanto adoravas, e também é em preto metalizado e os bandos são na mesma pele clara que tu escolheste da outra vez
Sabes, quando entrei no stand para escolher o carro tive um arrepio, no espelho em frente pareceu-me ver-te a meu lado…
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sexta-feira, 12 de outubro de 2007
Sabes, hoje é domingo II
Sabes, queria tanto ter-te aqui, mas sei que não posso, mas o que queres teimo comigo mesmo, e quando olho para tudo o que deixaste ficar para trás ainda tenho mais vontade de te apertar contra o peito e dizer-te tudo o que estes anos não pude.
Sabes, há um pássaro que sempre volta na primavera se calhar não e aquele que tu um dia apanhaste do chão e que tinha a asa partida e tu com o teu jeitinho fizeste uma pala e curaste-o, não sei se será o mesmo, já passaram tantos anos mas ele continua ai, ainda hoje o ouvi, sabes canta tão bem o seu piar por vezes tira-me daquilo que estou a fazer e fico para ali a ouvi-lo cantar nunca me canso, fico assim meio sonhador e penso em ti e nos teus braços à volta de mim e dos teus lábios que se prendiam no meu pescoço
Sabes, quando temos tudo isso por vezes nem ligamos e depois, assim de repente perdemos esse lado bom da vida e ai vemos o quanto bom que era, tenho tudo guardado no pensamento. São as minhas pequenas memórias
Sabes, olhei mais uma vez o quarto e parecia que estavas ali deitada, como na1uele domingo e, que sai para ir trabalhar e não te dei o tal beijo, uma lágrima correu-me pela face e eu fechei a porta e tudo ficou como à tantos anos atrás, sossegado e tranquilo, assim como está a casa
Sabes, como todos os anos que se passaram no dia dos teus anos vou por flores naquele lugar que eu não consigo dizer, foi lá que te abracei pela última vez e não queria que te fosses de mim, todos os anos, todos os dias passo por ali e olho e as lágrimas assaltam-me e eu fujo, corro sem ver, outro dia tropecei e agarrei-me para não cair, mas agarrei o vento e o tropeção acabou numa queda que me fez parar e olhar para trás, não vinha ninguém deixei-me ficar sentado no chão do passeio, e as lágrimas rolaram à vontade pela face fora
Sabes, é difícil continuar este caminho sentir-te tão longe
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Perdido no tempo vazio IV
Como se houvesse um interruptor que alguém liga ou desliga a seu belo prazer, a chuva deixou de chorar no alcatrão da auto-estrada, e o sol esticou seus raios tentando tocá-lo levemente através da janela, poisou o jornal, olhou em volta, para onde tinham ido todas aquelas pessoas que ainda há pouco o olhavam, teriam sido engolidas pelos raios de sol. Que importa isso, levantou seu pesado corpo saiu para a rua, o calor parecia que sempre ali estivera e o casaco estava a fazer peso em cima dos ossos cansados de tanto esperar, sem presa entrou no carro uma lágrima solitária percorreu-lhe a face caindo desamparada no vazio, pôs o carro em marcha
Rolava pela auto-estrada lentamente, não havia pressa para chegar a nenhum lado pelo contrário, descobrira que era dono das horas, o tempo podia ser qualquer coisa que ele quisesse
O estômago lembrou-lhe que fazia algum tempo que não ingeria alimentos, era capaz de ser uma boa ideia comer qualquer coisa, mas apenas o estômago tinha fome, o resto do corpo estava bem assim e ele não teimou segui a viagem para lado nenhum, talvez saísse na próxima saída da auto-estrada e parasse para comer e talvez arranjar um sitio para pernoitar, teria de comprar roupa para o dia seguinte já não suportava ver-se com aquelas roupas que pareciam ter-se tornado na sua segunda pele.
A mente pregou-lhe uma partida e leu-lhe uma passagem da sua vida antiga, daquela vida que ele queria deixar lá atrás no fundo da corrida que se tinha comprometido a si próprio fazer, tinha de deixar tudo lá bem longe, onde quer que isso fosse, mas a mente tem destas coisa e quando menos esperamos atraiçoa-nos e traz-nos o passado bem vivo ao presente e os olhos toldam-se a força desaparece do corpo e entrou numa letargia sem sentir. Passou a tal saída da auto-estrada onde queria sair e o carro tomou conta da estrada e rolava solto no asfalto.
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Asas IV
Deitado sobre a cama o teu corpo parece completamente inerte mas pulsa nele a morte tardia de uma tarde sem medos, sem receios, e a mente vagueia solta pelo quarto espelha-se na janela trancada e olha a rua onde passam pessoas que olham o prédio velho e escuro com ar de terror, e o corpo deitado nessa cama amarrotada sob o peso do corpo meio morto descansa sem ti
As asas estão sujas de terra molhada e excrementos humanos que trazes para casa sem saberes, como os corpos que amontoas numa pilha sem nexo. E a puta frágil que apanhaste na rua ás cegas enroscasse no teu corpo em ânsias de te prender dentro do peito, ao contrario de outros tu despertas-lhe uma necessidade de amar como não sabia que era possível, e o teu corpo torpe e gelado esticado sobre os lençóis em desalinho nada sente, e a mente esqueceu-se dessa puta de olhos fixos no tecto com vontade de te amar, porque não te conhece os passos, se soubesse quem tu és fugia através da parede e perdia o corpo no chão do passeio, mas quer amar-te o que sente por ti não é pena nem piedade é antes um sentimento misto amor e ódio, mas não sabe defini-lo e continua a fazer-te festas suaves como que a medo de te acordar dessa letargia, nem, sabes que ela ai está, perdes-te os sentidos quando caíste nessa cama onde dormes dias a fio e deixas a mente vaguear solta pelo quarto a olhar pela janela e a querer ser igual ás pessoas que vê lá em baixo a pisar o passeio 
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quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Asas III
Encerras em ti todo o ódio que viaja pelo mundo escuro e sujo, nas ruelas da cidade perdes os sentidos és cuspido nos passeios negros desta vida moribunda, atravessas os dias nas noites transformado num pedinte, não queres dinheiro nem comida, queres aquilo que não te dão, a razão de viver, queres para ti a sapiência da vida o medo da morte, és anjo de asas caídas negras como a morte que te consome nessa mortalha da vida fria e só que deambula a teu lado e através de ti chega sempre a todo o lado onde tu não vais
A fome de sede de ver de sentir de ter calor nesse gélido corpo é mais necessária à tua triste sina de vida, as asas que te protegem hão-de cair e tu vais finalmente ficar vulnerável a todas as coisas, e esse ódio que se te espelha nos olhos negros vai sorrir e soltar-se de ti
As asas que te protegem estão sujas, negras do chão onde dormes as noites da vida, agarrado a pensamentos que não são teus, largas de ti um odor ocre que afasta os demais mas tu nada sentes estás preso nessas asas que te pendem das costas e te tapam o corpo encerrando em ti os males do mundo em que não vives, e de olhos cerrados atravessas os corpos sem razão de viver, e transportas para além de todos os seres a vingança mortal de todos os mundos, fechando com portas de ferro o universo de sol que possa perturbar a tua alma, alma que perdeste faz muito tempo mas que teimas em perseguir sabendo que nunca a vais encontrar por isso arrastas os corpos deitados no passeio do tempo, esses tristes moribundos que em ti confiam porque perderam o direito de te ver com essas asas que de ti dizem tudo
Morre besta, gritas num torpor, mas nada mais fazes para perder as asas que te toldam a razão e te trazem o vinho que tu sem perceber nunca beberás
Encerras em ti tudo o que a humanidade entulha em falsas quietudes
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20:01
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terça-feira, 9 de outubro de 2007
Pensamento
E o mar escorrega sob o andar indiscreto dos meus pés,
perdido na deriva dos sentidos afundo na areia deserta do cais
o bater de uma porta o sentir de um dia sem sentido,
ao longe os barcos afastam as lágrimas na espuma de um oceano vazio
contra os rochedos vogam sem parar ondas
e as nuvens teimam em mostrar o caminho
Deserto oceano
onde os passos ressoam sem parar
e os barcos parados no cais navegam cegos
nos sonhos de outros mares
e o mar aproxima os passos
mente lúdica
E o mar escorrega sob o andar indiscreto dos meus pés
procuro a razão
e a mente sem sentido
escorre o vazio das ideias
musica
luzes
ribalta de ocos sentidos
sumo amargo de um vaso sem flor
mar tragado pela terra
nas pedras do caminho
e os barcos navegam nesse cais
aves presas
guilhotinas
cabeça pendente no olhar
e o céu amarra o mar
no sol
de uma lua distante
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15:11
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segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Perdido no tempo vazio III
A chuva teimosa chorava em lágrimas grossas, parecia que o céu estava tentado em afogar a terra com todo aquele desabar de agua, ele lia o jornal que adquirira na papelaria da estação de serviço, o café estava frio assim como o ar que se respirava lá fora, e o que é que isso lhe interessava, as noticias do jornal eram as mesmas de sempre apenas mudavam os personagens, a guerra não parara por sua causa e num pais qualquer todos continuavam aos tiros.
Lá fora o tempo teimava em derramar as lágrimas sofridas, ele olhava pela janela, carros apressados passavam rápidos na auto-estrada, gente desinteressante continuava sentada ao seu redor a olha-lo como se ele fosse animal em cativeiro, e ele apenas tinha nas faces a dor de ter chorado como o dia, os cabelos pendiam molhados, a roupa estava desalinhada, há quantos dias tinha vestido aquelas calças e aquela camisa, não se lembrava mas não podia ter sido há muito, lembrava-se de ter tomado banho pela manha antes de sair para aquela aventura, os olhos cavados liam, ou faziam que liam, a noticia de um acidente espectacular num viaduto em que teriam perdido a vida quatro pessoas, porquê estranhar este tipo de coisas as pessoas correm sem ter noção do perigo onde se vão encontrar.
Que porcaria, nada de novo no mundo, a não ser esta chuva que afoga o campo
E ele continuava a olhar pela janela e as pessoas a olhá-lo como se de um animal se tratasse.
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15:42
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domingo, 7 de outubro de 2007
Asas II
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sábado, 6 de outubro de 2007
Palavras
Se por vezes a escuridão me encerra muitos são os momentos em que a paz de alma e o pensamento límpido me assalta a caneta e se escreve sozinho num mecanismo de matraquear as teclas deste computador, e as palavras com vida própria se juntam e fazem uma cerimónia de faustos paladares e coloridos arco-íris numa festa privada onde nem sempre sou convidado
Acusam-me de as prender e não as deixar seguir o seu próprio rumo, mas sempre que as solto derivam pelo papel de mãos dadas olhando de soslaio quem passa, não deixando as teclas tocarem-nas e assim soltas espalham-se neste blog livres e sem amarras
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15:50
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Sabes,hoje é domingo
Sabes, hoje acordei bem cedo, muito antes do despertador, aquele que tanto te irritava, levantei-me e depois de um duche rápido barbeei-me com aquela máquina que me deste pelos anos, lembras-te? aquela que tu embrulhaste numa série de caixas que iam diminuindo à medida que as ia abrindo. Sabes ao ver-me ao espelho senti a falta da tua silhueta atrás de mim a dizer Vê lá se não te cortas, e o teu sorriso atrevido e eu a tentar pôr-te espuma na ponta do nariz, Lembras-te?
Sabes, hoje é domingo, já passaram tantos anos e ainda guardo aquele beijo que não te dei e dói-me a alma pensar que isso pode ter feito a diferença entre tudo o que aconteceu, mas tu estavas deitada de costas para a porta e eu achei que devias dormir mais, que não devia acordar-te, era tão cedo o dia ainda nem tinha despertado do torpor da noite, e só eu é que tinha de ir trabalhar porquê acordar-te, e tu dormias tão calma, tão sossegada nos teus sonhos, sabes esse beijo está preso nos meus lábios e por vezes atrasa-me o falar.
Sabes, já passaram tantos anos que me fugiste de repente, e a amargura de te ter perdido corrói-me as entranhas e o pensamento fica vazio e sem nexo atravesso os dias e as noites, Sabes, a tua cama está como a deixaste faz tantos anos atrás, já tentei varias vezes mas não consigo deitar lá o meu cansado corpo, as almofadas tem o condão de me dar o teu perfume, e já passaram tantos anos, mas não consigo tirar aquelas roupas dali, talvez lá fiquem para o resto dos dias a lembrar o teu corpo despedido que naquele domingo deixei a dormir, antes te tivesse acordado e dado aquele beijo que me arde nos lábios e me queima no mais fundo do coração, a pergunta que não encontra resposta será que se te tivesse acordado estarias a meu lado, já passaram tantos anos meu amor
Sabes, hoje é dia dos teus anos, vou vestir aquele fato de que tu gostavas tanto e vou, desculpa, meu amor desculpa, hoje é domingo tu fazes anos e eu estou a falar de mim
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11:49
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quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Asas
Como um anjo de asas caídas vogas na noite dos sentidos, espirais arrependidas da noite negra como a morte, vacilas entre beijos de putas frágeis, revigoras teu corpo no álcool dos outros bebido em tragos largos nesses bares rascas onde conheces a vida, que pensas que é só tua, ferindo de morte todas as criaturas que contigo se cruzam, sem perderes um só segundo a pensar, o ódio cresce em ti, como essas asas pretas sujas de tanto roçarem corpos frágeis de putas que julgam dar-te prazer, rogas pragas como bebes esse vinho rasca em copos sujas de mãos que desconheces. Depositas as asas num qualquer quarto de uma pensão do acaso, deitas ao lado de um corpo estranho que esquecerás na manhã dos dias, entras em transe perdes as asas permaneces pregado ao solo, o beijo que te aquece o corpo fulmina todos os ódios, aquela fraca figura colhida na rua de roupas quase rotas transportou para ti toda a sua amargura. Olhos rasgados na noite o frio gélido da morte atravessou a porta e prendeu-se nesse beijo, cerras as asas podres de um anjo caído, olhas a puta frágil que surpreendeu, acordas da letargia dos dias, a mente voa-te para além do conhecimento, recordas os dias mais velozes da tua curta existência, preso nesse corpo frágil encontras o desconhecido sentimento que te quebra as asas do ódio, fincas forte o olhar, e essa mulher a quem pagas por um simples momento de prazer carnal desperta em ti vagas torrentes quentes de paixão, engana-te o olhar e perdes as asas sujas no chão da vida. Saltas dessas camas de enganos, voas pelas ruas desesperado, desamparado e num bar de má sorte encontras o vinho mortal, encerras-te nessas asas pretas que te ferem a vida e as putas que te conhecem velam agora teu cadavérico corpo embrulhado numa mortalha de asas podres como foi a tua vida.
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12:39
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quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Perdido no tempo vazio II
A chuva caia, como as lágrimas de um céu escuro que se abate sobre a terra desfazendo-se em lamúrias de uma vida passada, assim as suas lágrimas corriam pelo rosto cansado de barba por alinhar. resolveu sair para a chuva partilhar com ela as suas lágrimas, ambos de mãos dadas correriam o mundo nessa tarde de um dia cinzento, em que o céu lhe fazia companhia na caminhada para o vazio
Corpo molhado, as lágrimas cobriam-lhe o corpo por dentro e por fora das roupas, a sua aparência já vira melhores dias, parecia muito mais velho, estava agastado pelo tempo de espera para sair, cabelos desgrenhados e encharcados pelas lágrimas do céu, a face tinha marcas de noites mal dormidas e do álcool ingerido sem conta.
Não se importava que estivessem de olhos pregados nele, aquelas pessoas que esperavam o passar da chuva, que se danassem, elas que olhassem, que lhe perscrutassem o ser, pouco lhe ralava para onde estavam aquelas pessoas a olhar, se para ele se para o mundo que lá fora parecia desfazer-se em lágrimas cada vez mais grossas.
Tentou um sorriso mas apenas lhe saiu um esgar de lábios, e a menina que atrás do balcão perguntava o que queria enquanto mascava uma pastilha, parou de mastigar, fitou-o no fundo dos olhos estática, sem conseguir mover qualquer átomo do seu corpo. Pediu um café uma garrafa de água, sim pode ser de litro e meio, e um conhaque num balão aquecido. Pagou , sentou-se na mesa mais longe de todos os outros que estavam naquele local bastante enfadonho.
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08:54
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terça-feira, 2 de outubro de 2007
Foge
corre rua abaixo
parte de mim
deixa meu corpo moribundo
errante pelas trevas
deixa que me beije a noite
durmo em teu colo
e o sangue esfria em mim
quero partir deste mundo
sem ti
deixa que te dê um beijo
aperta-me junto ao peito
e as mãos
levas-as o vento frio
gela-me as veias
o pensamento
corre em mim
a noite escura
Foge
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19:11
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Perdido no tempo vazio
Saiu para a rua sem saber onde ir, sabia apenas que tinha de fugir para algum lugar que fosse longe dali, estava a sufocar, o relógio parado nas oito talvez da manha talvez do fim do mundo, tudo lhe parecia surreal, aquelas pessoas, o aspecto da casa, os olhares reprovadores, a constantes discussões sobre tudo e quase sempre sobre absolutamente nada. Correu pela estrada fora, o carro deslizava a uma velocidade alucinante, o trajecto traçado era apenas e só o destino daquela auto-estrada, olhava através do vidro a chuva que obrigara as pessoas a ficarem algures longe daquela louca viagem rumo ao desconhecido, o pensamento navegava pelo passado, trazia-lhe o que ele queria esquecer, os tormentos as pressões as discussões. Porquê, porque é que isto não pára, estou a enlouquecer, e a velocidade aumentava, não se dava conta da vertigem. As luzes de uma estação de serviço despertaram-no para a velocidade, travou a fundo, por pouco não perdeu o controle do carro, entrou pela estação dentro, estacionou com um rugido de travões. Barafustou, bateu no volante com as mãos. De repente entrou num pranto, as lágrimas soltaram-se pelas faces, gritou todo o seu ser, deu largas á fúria que trazia dentro do peito, e as lágrimas soltavam-se em catadupas, rolando livres pelas faces iradas.
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15:28
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segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Decisoes
Estava decidido, não passava desse fim-de-semana. A decisão tornara-se clara, nada havia que o demovesse dela. Para quê continuar aquela maratona, doía-lhe o corpo, e mais que o corpo doía-lhe a alma, o espírito, não valia a pena perseguir naquele caminho que não o levava a lado nenhum.
Segunda-feira saíra do emprego completamente vazio, a manhã tinha sido exausta, estivera desatento durante todo o tempo que passara na empresa, não ouvira fosse o que fosse, as conversas tivera-as por pura simpatia, não guardara nada do que fora dito, apenas uma ideia o assaltava, tinha de dar um novo rumo à vida, não podia continuar a viver como até agora. Ao dirigir-se para o carro era como se fosse um autómato olhava sem ver, estava mecanizado e sabia-o, entrou na viatura o motor roncou e começou a andar, rolava pela estrada lentamente, tinha vida própria dirigia-se para o local de sempre, e ele estava decidido a não voltar, precisava de ar, precisava de paz, e não era naquele lugar que iria encontrar o que há tanto tempo necessitava, sossego. Num gesto decidido parou o carro na estação de serviço, entrou no café pegou uma chávena de café e sentou-se numa mesa a olhar a estrada cheia de apressados que iam e vinham como carreiros de formigas, um avião despertou-lhe a atenção, acordou-o para logo o deixar pensativo, para o deixar regressar ao balanço que, o balanço de uma vida.
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White Night
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sábado, 29 de setembro de 2007
Morte
A morte chegou, sinto-a
fria, escura
caminha na minha direcção
está mesmo ao meu lado
olho-a nos seus olhos cavados
sem expressão, sem sentimento
não estou pronto, grito-lhe
numa voz rouca
responde que não tem pressa, que pode esperar
e senta-se ao meu lado
não diz nada, só espera
num último suspiro
peço-lhe que me deixe ficar
continua calada como um felino
espera a hora de atacar.
Perco as forças, deixo-me embalar
pela cantilena que a morte entoa suavemente
sinto frio, o corpo gela
apesar da roupa que me protege
nego-me ouvir a morte
recuso-me a aceitar que ela esteja ali
desvio o olhar,
sinto-a forte,
fria escura
quer levar-me
Lembro o tempo que vivi
desde o dia em que fui feito
recordo cada minuto, cada segundo
e a morte ali
sentada
calada
revejo toda a minha vida
encalho neste momento
e a morte
pega em mim
e sussurrando
embala-me nos seus braços
vogamos sem destino pelo fim dos tempos
00/04/19
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White Night
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06:21
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Life as a ball
Life turns as ball without a sense, it goes and it recommences. Nothing is right nothing is wrong, everything returns to that which it was in the beginning, as much as we run from the spectre of a past life, it haunts us in the shadows projected in the sidewalk, entering the thought and sinking it’s mark in the saddest of souls.
I go back to the beginning of all to walk the past in a wave of pointless (meaningless) memories, I let myself sunk to immediately appear at the top of the highest mountain, I will be master of all resources, nothing will make me go back. I am willing to walk the world of loneliness, I prepare the thought and heart, soul and spirit for this journey. 
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01:47
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sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Pai
Solto no vento a angústia de te ter perdido, o medo de te voltar a ver, a raiva de te ouvir
fugiste uma vez e espero que nunca mais voltes, preferiste voltar-me as costas e partir para além sem me dizeres, escondeste-me demasiado tempo, lutei em vão contra essa vontade de te perder
Em tenra idade te matei, nada ganhei em o fazer, nunca te consegui esquecer, vagueias na minha mente, perturbas o meu pensamento errante e sem destino, estás dentro de mim, enraizado no mais fundo do meu ser, e rasgo a carne e o ser, e tu, tranquilo aniquilas a minha vontade de te perder, roubas a identidade do meu ser mais profundo.
Longe vai o tempo em que de vez fugiste, muito para além do conhecimento, muito para além do entendimento, no entanto sinto-te perto, arrepiantemente perto, doridamente colado na pele, e perco-me nas palavras que nunca nos dissemos, nas discussões possiveis sobre temas dificeis de entendermo-nos, nunca nos falamos como pais e filhos, foste sempre aquela figura altiva e aflitiva que não queria ver, não queria sentir para lá de si, foste aquele egoísta que se senta perto do espelho narcisista, nada te incomodava, apenas tu eras o centro do teu universo, todos os outros eram apenas e só "os outros"
Raiva de não te ter visto partir, que ódio, sim posso dizer QUE ÓDIO, não ter estado a teu lado naquele momento único, no ponto sem retorno. Mas, tu também nunca estiveste por perto, nunca te deste verdadeiramente a conhecer, sempre estiveste entre as sombras da noite e a claridade cansada das manhãs frias do Inverno dessa vida que não quiseste viver, dessa negação constante da identidade
Morreste como viveste a olhar para o espelho narcisicamente
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22:10
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In the night
It stops beyond the world, it stops beyond all the terrestrial things and full, madness to be closed here in this nomadic emptiness, I before look to the nothing the unconscious one of the fall in the dark one
Vacant grumbles that full the night without the stars for company and the moon that promised did not fulfill, grumbles that if raise in air that breathe hardly, intoxicate for the tobacco of cigarettes of the others I leave for the street looking for something that not meeting here inside
I leave not to die of me, in this to circulate without chain without route without destination lost Madness in the time you are welcome to make to modify what I do not know to beg, I lose myself in the reason of the brain that does not leave me to rest, the nights are long and the mornings are preludes of the night that proceeds to them Circulates lost in the thought that hurt and wounds the eyes
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White Night
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